Ainda Paris a arder!
É de repensar toda a estrutura dita democrática das nossas sociedades, também ditas mais civilizadas. O que está a acontecer em França só pode, de facto, ser reflexo de algo muito mal feito e por muito, muito tempo.
Sem querer desresponsabilizar ou desculpabilizar quem age deste modo, mas há razões que não podem ser ignoradas... penso eu de que!
"Por mais que a França igualitária, republicana, fraternal e idealista, criadora dos Direitos do Homem e herdeira espiritual do Iluminismo queira pensar e repensar o fenómeno da integração dos imigrantes e da suas políticas, o facto saliente é este: ninguém, salvo escassíssimas excepções, está integrado. Magrebinos, negros, árabes, os grupos mais representados, quase todos eles um subproduto residual do colonianismo francês e das suas guerras de libertação, sabem à partida que podem trabalhar em França, viver em Paris, mas, viverão sempre à sombra da luz que ilumina os brancos e os filhos da terra e do sangue. O racismo francês, latente ou explícito, contaminou sempre a sociedade francesa, uma das sociedades mais chauvinistas e xenófobas do mundo, apesar da capa «cultural» e das manias snobs dos intelectuais que gostam de «descobrir» culturas marginais mas, nunca, de as integrar de pelo direito como francesas ou europeias. A integração cultural, falsa, assente em meia dúzia de participações controladas dos estrangeiros «escolhidos», não oculta nem pode ocultar a separação profunda e radical entre o Estado francês e os grupos étnicos que lhe são estranhos, pelos hábitos, as tradições, a pobreza, a ignorância e a cor da pele.
Esta gente, remetida para guetos donde só saem para trabalhar, espera na ansiedade, na raiva e no desespero. Paris não é Londres nem Nova Iorque, que acolheram sociedades multirraciais sem fracturas nem degradações tão humilhantes como as que atingem os imigrantes em França. Paris não é, sequer, Berlim. É uma capital de luxo e bem-estar, cercada de arame farpado e favela melhorada. Nem Sarkozy, nem Villepin, nem os decrépitos partidos franceses e os seus dirigentes, mais um Chirac decadente e na recta final, estão preparados para enfrentar este magno problema, que requer mais do cargas policiais e manifestações de força e autoridade. Estes imigrantes desafectados tornar-se-ão, no seu abandono, um perigo sociológico e uma subcultura de crime e desvio da norma. "
Esta gente, remetida para guetos donde só saem para trabalhar, espera na ansiedade, na raiva e no desespero. Paris não é Londres nem Nova Iorque, que acolheram sociedades multirraciais sem fracturas nem degradações tão humilhantes como as que atingem os imigrantes em França. Paris não é, sequer, Berlim. É uma capital de luxo e bem-estar, cercada de arame farpado e favela melhorada. Nem Sarkozy, nem Villepin, nem os decrépitos partidos franceses e os seus dirigentes, mais um Chirac decadente e na recta final, estão preparados para enfrentar este magno problema, que requer mais do cargas policiais e manifestações de força e autoridade. Estes imigrantes desafectados tornar-se-ão, no seu abandono, um perigo sociológico e uma subcultura de crime e desvio da norma. "
Clara Ferreira Alves
3 Comments:
A clara tem muita razão mas eu continuo a achar que os fins não justificam os meios. Agora urge resolver a situação de viloência em cadeia e que esta não se propague mais.
By
Carla Motah, at 2:57 da tarde
Mas isto está tudo doido? Se um aluno se sente injustiçado, é razão para bater num professor(É um mero exemplo!)?
Como diz a Motah, os fins não justificam os meios e, porque até gosto bastante das crónicas da Clara Ferreira Alves, vou tentar ler o texto não como uma apologia aos "abandonados grupos étnicos", mas sim como uma crítica ao governo francês.
By
Cotovia, at 5:41 da tarde
Concordo, mas repito que se deve repensar o modo como se tem agido socialmente com todos estes emigrantes e grupos étnicos,porque também não acredito que algo com tamanha dimensão surja absolutamente do nada!!! Isto não desculpa os seus actos mas culpabiliza em grande parte, de facto, as políticas e governos que, se calhar, durante muito tempo não imaginaram que isto poderia acontecer! O que me parece que a Clara quer chamar a atenção é para o facto de não se ter tido inteligência suficiente para lidar com a situação e evitar tamanha "revolta"!
Tal como nós professores, que devemos saber levar a àgua ao nosso moinho, dentro da nossa "sala de aula". Não basta pôr os alunos lá fora! E eu também não desculpabilizo alunos mal educados e ou semi-marginais, como sabem!
By
Snail, at 7:32 da tarde
Enviar um comentário
<< Home