Cotoveladas

quinta-feira, novembro 03, 2005

Avó



Queria contar-te tantas coisas…

Sabes,
continuo com medo dos trovões,
mas nunca mais ouvi a oração a Santa Bárbara…

Às vezes, pela manhã, ouço o amolador que anuncia a chuva
e tento lembrar-me do nome que lhe davas,
mas é em vão… (Devia tê-lo escrito).

A receita das castanhas escrevi-a,
contudo talvez me tenha esquecido de algum ingrediente,
pois nunca, mas nunca, ficam iguais às tuas.

Sabes,
agora, é, outra vez, o tempo das castanhas…

Lembro-me do cabelo branco que tentavas esconder
(Nunca percebi muito bem porquê);
das tuas mãos ásperas e fortes que cheiravam a canela e a erva doce,
das tuas rugas, a mais encantadora maquilhagem imposta pelo tempo,
e tenho saudades…

Tenho saudades do teu amor incondicional
e, como avó, a incondicionalidade do teu amor era a dobrar.

Quando me sentava contigo, os fios do tempo pareciam enredar-se
nas inúmeras histórias que me contavas
e ele parava.

Mas, depois, não parou…

E fiquei com tantas coisas para te contar…


Novembro é sempre um mês triste e às vezes tiro para fora alguns caixotes de memórias; hoje, era o dia do seu aniversário.

11 Comments:

  • Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    By Blogger Snail, at 9:59 da tarde  

  • Sem palavras!!! A comoção roubou-me os possíveis comentários. Em todo o caso, qq palavra não chegaria nem aos calcanhares da emoção que senti ao ler o teu texto. Bjs

    By Blogger Snail, at 9:59 da tarde  

  • Bonitas palavras para uma avó que se comoverá com certeza, onde quer que esteja.
    Beijinhos

    By Blogger Carla Motah, at 10:15 da tarde  

  • Vieram-me as lagrimas aos olhos quando li o teu texto, talvez porque a minha ferida ainda esta bem aberta...
    Adorei o teu texto e achei uma maneira lindissima de homenagear uma das pessoas mais importantes da nossa vida. As recordacoes sao definitivamente o melhor que temos.
    Fica bem amiguinha e um beijinho muito grande

    By Anonymous Anónimo, at 1:35 da tarde  

  • Perante a enormidade do teu texto pus-me a chorar. Chorei porque também o sinto, porque as minhas queridas avós também me levam a uma enormidade de emoções, porque as recordações me fazem sentir uma saudade sem fim.

    Perante a enormidade do teu texto, contentor de sentimentos que me são tão familiares, ornado por uma escrita sublime, chorei também de alegria por conhecer autora tão pura.

    Obrigada por seres.

    By Anonymous Anónimo, at 4:11 da tarde  

  • Um beijinho.

    By Blogger Pantera Cor-de-Rosa, at 8:19 da tarde  

  • Também me lembro sempre da minha avó materna quando troveja...Também houve indícios de chuva nos meus olhos ao ler este texto de amor. beijinhos doces

    By Blogger t-shelf, at 11:01 da tarde  

  • Li outra vez o texto e voltei a pensar (mais uma) na minha avó materna, a primeira que perdi, já lá vão 16 anos, e aquela que mais me custou perder. Ainda por cima a imagem fez-me lembrar aquilo que ela me dizia sempre que me via: "Ó minha rosa branca!" Linda, linda, linda!

    By Blogger Carla Motah, at 10:32 da manhã  

  • Lembrei-me das saudades que tenho da minha avó. Ela também me ensinou a oração de Santa Bárbara e recebia-me sempre com um belíssimo "minha querida a avó tinha tantas saudades tuas", mesmo que tivesse estado comigo no dia anterior. Tenho saudades de ir com ela para a Ericeira, todas as manhãs, pq lhe fazia bem apanhar o ar do mar e ficávamos ali as duas a conversar. Beijinhos para todas

    By Anonymous Anónimo, at 5:25 da tarde  

  • Desculpem mas também sinto muita falta do meu avô. Beijos

    By Anonymous Anónimo, at 5:50 da tarde  

  • Beijinhos a todas.
    Neutro, quem és tu?

    By Blogger Cotovia, at 10:06 da manhã  

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