Os Putos

Uma bola de pano, num charco
Um sorriso traquina, um chuto
Na ladeira a correr, um arco
O céu no olhar, dum puto.
Uma fisga que atira a esperança
Um pardal de calções, astuto
E a força de ser criança
Contra a força dum chui, que é bruto.
Parecem bandos de pardais à solta
Os putos, os putos
São como índios, capitães da malta
Os putos, os putos.
Mas quando a tarde cai
Vai-se a revolta
Sentam-se ao colo do pai
É a ternura que volta
E ouvem-no a falar do homem novo
São os putos deste povo
A aprenderem a ser homens.
As caricas brilhando na mão
A vontade que salta ao eixo
Um puto que diz que não
Se a porrada vier não deixo.
Um berlinde abafado na escola
Um pião na algibeira sem cor
Um puto que pede esmola
Porque a fome lhe abafa a dor.
José Carlos Ary dos Santos, 22 anos após a sua morte.
6 Comments:
Não sabia que já fazia tanto tempo, mas de qq modo um gde senhor sem dúvida. O poema só me faz lembrar a música mais tarde cantada por Paulo de Carvalho! e confesso que tb, ironicamente, os casos de pedófilia no nosso país!Bjs
By
Snail, at 11:16 da tarde
Oh!, que pena lembrares-te da pedofilia ao ler este poema; eu acho-o bonito. Quanto ao cantor, não sabia que o Paulo de Carvalho também tinha interpretado este poema, só me lembro do Carlos do Carmo.
Beijinhos e bom resto de semana.
By
Pantera Cor-de-Rosa, at 11:46 da tarde
Pois lembro-me da versão do Carlos do Carmo e ainda melhor da do Paulo de Carvalho.
Poema bonito, como os outros de Ary dos Santos.
Beijinhos
By
Carla Motah, at 9:51 da manhã
E que longe que já estão as caricas, os piões, os berlindes e o saltar ao eixo...
Beijinhos.
By
Cotovia, at 12:59 da tarde
A pedofilia vem a propósito do sr. Herman José ter um dia usado este poema em canção para aludir à dita "coisa".Bjs
By
Snail, at 8:52 da tarde
Poema muito bonito!
Sabe sempre bem ler poemas assim.
Beijinhos!
By
LenaP, at 2:01 da tarde
Enviar um comentário
<< Home